sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Vanguardas Europeias


1.    Momento Histórico

As vanguardas européias são os movimentos culturais que começaram na Europa no início do século XX, os quais iniciaram um tempo de ruptura com as estéticas precedentes, como o Simbolismo.
Ao se iniciarem os anos de 1900, a Europa suportava a herança do final do século XIX, caracterizada por duas situações antagônicas, mas complementares: euforia exagerada diante do progresso industrial e dos avanços técnico- científicos – como a eletricidade, por exemplo – e as consequências desse avanço no processo burguês-industrial: uma disputa cada vez mais acirrada pelo domínio dos mercados fornecedores e consumidores, que resultaria na I Guerra Mundial. Assim, contrastando com o clima eufórico da burguesia, também vamos encontrar o pessimismo característico do fim do século, representado pelo decadentismo simbolista.
Essa contradição gera um clima propicio para efervescência artística, favorecendo o aparecimento de varias tendências preocupada com uma nova interpretação da realidade. A essa multiplicidade de tendências, os vários –ismos- Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo - , convencionou-se chamar vanguarda européia, responsável por uma verdadeira inundação de manifestos (só o Futurismo lançou mais de 30), escritos entre 1909 e 1924, ou seja, durante a guerra e nos anos imediatamente anteriores e posteriores.
O Brasil, por sua vez, passou de escravocrata para mão de obra livre, da Monarquia para República. Os movimentos culturais desse período, responsáveis por uma série de manifestos, são: Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, chamados de vanguardas européias.

2. Características gerais
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Entende-se, com este termo – vanguarda -, um movimento que investe um interesse ideológico na arte, preparando e anunciando deliberadamente uma subversão radical da cultura e até dos costumes sociais, negando em bloco todo o passado e substituindo a pesquisa metódica por uma ousada experimentação na ordem estilística e técnica.
A palavra vanguarda deriva do francês avant-garde, termo militar que designa aqueles que, durante uma campanha, vão à frente da unidade. A partir do inicio do século XX, passou a ser empregada para designar aqueles que no campo das artes e das ideias, estavam à frente de seu tempo. Ou seja, passou a definir artistas e intelectuais que, não satisfeitos com o que então se produzia, buscaram novas formas de expressão artística, tanto na linguagem como na composição.
Entre as inúmeras tendências inovadoras, surgidas nas primeiras décadas do século XX, e que contribuíram decisivamente para a constituição da chamada modernidade artística, devemos destacar:

2.1.        Futurismo

O primeiro manifesto do movimento foi publicado em 20 de fevereiro de 1909, assinado por Filippo Tommas Marinetti (1876-1944). Apresentava como pontos fundamentais a exaltação da vida moderna, da máquina, da eletricidade, do automóvel, da velocidade e uma inevitável ruptura com os modelos do passado.
Em 1912, surge o Manifesto Técnico da Literatura Futurista, propondo “a destruição da sintaxe, dispondo os substantivos ao acaso, como nascem”, o uso se símbolos matemáticos e musicais e o menosprezo pelo adjetivo, pelo advérbio e pela pontuação.
É importante salientar dois aspectos muito relevantes do Futurismo: primeiro, a total identificação entre o movimento e seu líder, a ponto de se tornarem quase sinônimas as palavras Futurismo e Marinetti; segundo, a adesão de Marinetti ao fascismo de Mussolini, a partir de 1919, dadas as evidentes afinidades ideológicas entre eles. Assim, pode-se entender a repugnância dos principais modernistas brasileiros pelo movimento de Marinetti, apesar de apresentarem uma serie de pontos comuns com seus seguidores; aceitavam suas ideias artísticas, mas repudiavam seu posicionamento político. Oswaldo de Andrade tomou conhecimento do Futurismo e suas viagens à Europa anteriores a 1919, não relacionando, portanto, o movimento com o fascismo. Por outro lado, a palavra Futurismo passou a designar qualquer postura inovadora na arte, levando Oswaldo a saudar, em 1921, o jovem poeta Mário de Andrade com um artigo intitulado O meu poeta futurista”.
Em Portugal, notadamente entre 1910 e 1920, houve uma maior identidade entre modernistas de primeira hora e o Futurismo. Já nos primeiros números da revista Orpheu (1915) encontramos textos futuristas de Fernando Pessoa e de Mário de Sá-Carneiro. Em 1917, em Lisboa, realizou-se um “espetáculo futurista”, com a participação de Santa Rita-Pintor e Almada Negreiros; em novembro do mesmo ano, saiu o primeiro e único numero da revista Portugal futurista, que continha textos de Almada Negreiros, Raul Leal, Mário de Sá-Carneiro, Apollinaire e Blaise Cendrars, além do poema “Ultimatum”, de Álvaro de Campos.

2.2.        Expressionismo

O movimento expressionista surgiu em 1910, na Alemanha, trazendo uma forte herança da arte do final do século XIX, preocupada com as manifestações do mundo interior e com uma forma de expressá-las. Daí a importância da expressão, ou seja, da materialização, numa tela ou numa folha de papel, de imagens nascidas em nosso mundo interior, pouco importando os conceitos então vigentes de belo e feio. Como lembra Lúcia Helena em Movimentos da vanguarda européia, “ao contrario de outras vanguardas, que refletem otimistamente sobra a técnica e o pregresso, como por exemplo, os futuristas, os expressionistas são mais afetados pelo sofrimento humano do que pelo triunfo”.
Por suas características, o Expressionismo desenvolveu-se mais na pintura, dando continuidade a um trabalho iniciado por Van Gogh, Cézanne e Gauguin. Van Gogh chegou a afirmar que essa pintura, ao distorcer uma imagem para expressar a visão do artista, assemelhava-se à caricatura. É o que se pode perceber, por exemplo, na pintura O grito, de Munch, expressão da angustia do ser humano: a figura que grita não tem os traços do rosto bem definidos; pelo contrario, é um rosto distorcido, uma máscara, uma caricatura
O texto de Gombrich nos mostra o porquê do declínio do Expressionismo a partir de 1933, com a ascensão de Hitler na Alemanha: segundo as novas diretrizes, buscava-se uma arte “pura”, “limpa”, que retratasse a “superioridade” germânica, jamais numa caricatura.
Em 1912 Anita Malfatti, uma jovem paulista de 16 anos, parte para a Alemanha, já matriculada na Escola de Belas Artes de Berlim. Lá, entra em contato com o Expressionismo alemão, retornando, maravilhada, em 1914, quando realiza sua primeira exposição, em São Paulo. Sua segunda exposição, em 1917, desencadeou uma série de reações e acabou sendo o fato gerador da mostra e arte moderna que se concretizaria em 1922.
Na literatura brasileira, são esporádicas as manifestações expressionistas; o único caso em que elas são mais recorrentes é a poesia de Augusto dos Anjos, pré-modernista que teve sua obra publicada em 1912.

2.3.        Surrealismo

O Manifesto Surrealista foi lançado em Paris, em 1924, por André Breton (1896-1970), um ex-participante do Dadaísmo que rompera com Tristan Tzara. É importante salientar que o Surrealismo é um movimento de vanguarda iniciado no período entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da I Guerra Mundial e sobre a experiência acumulada de todos os outros movimentos. Entretanto, suas origens estão mais próximas do Expressionismo e da sondagem do mundo interior, em busca do homem primitivo, da liberação do inconsciente, da valorização do sonho. Em Salvador Dalí, o mais extravagante dos surrealistas, a influencia de Freud é marcante. São temas recorrentes em suas obras: o sexo (e todas as suas atribuições: angústias, medos, frustrações, traumas), a memória (sua permanência ou dissipação, representada por relógios que se diluem), o sono e o sonho.
O Surrealismo conhece uma ruptura interna quando Betron faz uma opção pela arte revolucionaria influenciado que estava pelo marxismo. Muitos dos seguidores do movimento não admitiam o engajamento da arte, criando assim uma divisão entre os surrealistas comunistas e os não-comunistas.

2.4.        Cubismo

Nascido a partir das experiências Pablo Picasso e de Georges Braque, o Cubismo desenvolveu-se inicialmente na pintura, valorizando as formas geométricas (cones, esferas, cilindros, etc.) ao revelar um objeto em seus múltiplos ângulos. A pintura cubista nasceu em 1907 e conheceu seu declínio com a I Guerra Mundial. A proposta cubista centrava-se na liberdade que o artista deveria ter para decompor e recompor a realidade a partir de seus elementos geométricos; segundo Picasso, “o trabalho do artista não é a cópia nem ilustração do mundo real, mas um acréscimo novo e autônomo” (o que teria levado o pintor espanhol a afirmar que” a arte é uma mentira que nos faz perceber a verdade”).
O trabalho mais revolucionário de Picasso foi a tela Les Demoiselles d’Avignon, de 1907, considerada a primeira obra cubista. Influenciado pela cultura africana e ibérica, Picasso retrata cinco mulheres de um bordel francês em poses sensuais: as duas mulheres ao centro têm expressões de andaluzas (sul da Espanha, onde nasceu o pintor); as outras três têm feições que lembram máscaras africanas. A ruptura com a forma de ver o mundo por uma única perspectiva pode ser exemplificada com a mulher sentada à direita: seu corpo é visto de costas e seu rosto, de frente.
Na literatura, o Cubismo viveu seu primeiro momento com um manifesto-síntese assinado por Guillaume Apollinaire (1880-1918) e publicado em 1913. A literatura cubista valoriza a proposta da vanguarda européia de aproximar ao máximo as varias manifestações artísticas (pintura, musica, literatura, escultura), preocupando-se com a construção do texto e ressaltando a importância dos espaços em branco e em preto da folha de papel e da impressão tipográfica. No Brasil, essa característica viria a influenciar Oswaldo de Andrade, na década de 20, e a chamada poesia concreta da década de 60. Apollinaire defendia as “palavras em liberdade” e a “invenção de palavras”, e propunha a “destruição das sintaxes já condenadas pelo uso, criando um texto marcado pelos substantivos soltos, jogados aparentemente de forma anárquica, e pelo menosprezo por verbos, adjetivos e pontuação. Pregava ainda a utilização do verso livre e a consequente negação da estrofe, da rima e da harmonia. Assim como na pintura, as colagens e o reaproveitamento de outros materiais passaram a ser incorporados pelos textos poéticos.

2.5.        Dadaísmo

Em 1916, em plena guerra, quando tudo fazia supor uma vitória alemã, um grupo de refugiados em Zurique, na Suíça, inicia o mais radical movimento da vanguarda européia: o Dadaísmo. A própria palavra dadá, escolhida (segundo eles, ao acaso) para batizar o movimento, não significa nada. Negando o passado, o presente e o futuro, o Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da guerra; daí ser contra as teorias, as ordenações lógicas, pouco se importando com o leitor e contra os manifestos.
Importante era criar palavras pela sonoridade, quebrando as barreiras do significado; importante era o grito, o urro contra o capitalismo burguês e o mundo em guerra. A propósito, no prefácio a Paulicéia desvairada, Mário de Andrade assim se manifesta sobre a literatura da poesia “Ode ao burguês”: “Quem não souber urrar não leia “Ode ao burguês””.

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